por Roberto Tranjan
Olá Pessoal,
Se você tem um pé lá no sertão, sabe que o caminho da
roça é aquele que torna mais fácil o trajeto de um lugar a outro. Até mesmo os
habitantes das cidades, que nunca foram para o interior, têm sua própria versão
dele – as ruas que todo mundo escolhe para ir e vir, por isso, mesmo sempre
congestionadas. Trilhar o caminho da roça traz a garantia de alcançar o destino
desejado no tempo certo. Não traz novidades, é certo, nem permite grandes
descobertas. Apenas está lá, disponível para todos, e a maioria prefere
segui-lo ao invés de qualquer outro.
O mercado, também é assim: repleto de “caminhos da roça”.
São os vários trajetos percorridos todos os dias pelas mesmas empresas, do
mesmo jeito, e que produzem sempre os mesmos resultados. Diante de uma mata
imensa, repleta de espaços virgens, intocados, o caminho da roça parece ser o
percurso óbvio. E quando alguém se arrisca a embrenhar-se pelo desconhecido em
torno, em busca de alternativas, logo os demais tratam de lembrar à pessoa
incauta da existência do caminho da roça. Afinal, o caminho da roça lá está
para simplificar a vida e descomplicar os movimentos, evitar os perigos,
pasteurizar as criaturas. É seguro e confortável. Mas não combina nem um pouco
com o famigerado discurso em prol da criatividade e da inovação.
Verdadeiramente, o caminho da roça facilita a vida, mas
se não nos aventurarmos por outros trajetos, passa a ser a única possibilidade.
O caminho da roça é um facilitador e, ao mesmo tempo, um limitador de idéias e
iniciativas. Toda vez que tentamos um trajeto novo, os registros mentais
insistem em nos levar de volta para o caminho da roça.
Enganar a mente
O que fazer diante disso? Continuar trilhando o
confortável caminho da roça traz visibilidade (afinal, dá para seguir com os
olhos fechados, tão previsíveis todos os passos) e a ilusão da segurança, mas
impede a construção de uma nova história e a criação de um negócio único.
Então, é necessário, vital mesmo! Ousar, em busca de opções. Mas, para isso, é
preciso “enganar” os nossos registros mentais. Existem algumas técnicas que
funcionam como estímulos para enxergar outros e diferentes caminhos. Permitem
criar um novo contexto e uma nova perspectiva e sair, nem que seja por breves
períodos, do tradicional caminho da roça. Nessas escapadas podemos ter idéias
que nos levarão a fazer novas conexões com outros caminhos.
Reformular o problema
Um dos exercícios para essa difícil virada é descrever o problema de uma
maneira diferente e preparar a mente para abordá-lo de um modo inovador.
Exemplo: um edifício de escritórios sofria com um elevador cronicamente lento.
A administração chamou os especialistas para avaliar a estrutura. Eles chegaram
à conclusão de que trocar o elevador por um novo modelo, mais rápido, exigiria
a demolição e reconstrução de uma grande parte da estrutura construída, uma
opção financeiramente inviável.
Reformularam, então, a perspectiva do problema: os
inquilinos estão aborrecidos porque têm de esperar muito tempo, na entrada. Essa
sutil mudança alterou o foco, levando a uma alternativa que se mostrou
especialmente adequada, a um custo baixíssimo. A solução foi contratar
marceneiros para instalar um grande espelho no saguão do elevador.
Em vez de se
concentrar no visor e na expectativa de pronta chegada do elevador, as pessoas
passaram a ocupar o tempo disponível na tarefa de observar sua própria imagem.
Passaram a fazer – sem nenhum estresse – ligeiras correções, como ajeitar o
cabelo e um detalhe ou outro da roupa, melhorando sua aparência.
Resultado: o volume de queixas baixou
consideravelmente. E tudo graças à redefinição do problema: em vez de “o
elevador é muito lento”, para “as pessoas estão chateadas”. Tratava-se,
portanto, de procurar o que fazer para acabar ou reduzir com a situação
desconfortável. Outras idéias: deixar a escadaria atraente e dar início a uma
campanha de vida saudável para estimular os inquilinos a subir pela escada
colocar poltronas e bancos pelo saguão para que as pessoas esperem com mais
paciência alternar os horários de entrada e saída dos escritórios para aliviar
o engarrafamento.
Quando o foco no produto e nos seus atributos é
substituído pelo foco no cliente e suas necessidades, a imaginação corre solta.
Experimente!
Fazer analogias
Trata-se de buscar um mundo correlato e aproveitar as experiências de outras
pessoas ou outros ramos de atividade. Voltar-se para outras áreas, nelas
buscando inspirações e respostas, é um jeito legítimo de romper bloqueios e
buscar o pensamento divergente. Foi assim que inventaram o desodorante roll-on:
quando alguém olhou para a caneta esferográfica e fez a conexão.
Tudo o que precisa ser feito é perguntar: “onde, no
mundo, o meu desafio (ou algo parecido) já foi enfrentado?” Se você quer
resolver um problema de velocidade, talvez o McDonalds e a Fórmula 1 sejam
inspiradores.
Mudar o ângulo
Trata-se de desafiar as regras, a forma tradicional de pensar. Existe uma
pergunta que provoca o status quo e remete ao pensamento divergente: “e se…?”
Exemplos: e se não fizermos nada? E se fizéssemos isso
pela metade do custo? E se os consumidores comprassem duas vezes mais? E se
mudássemos o processo? E se exagerássemos?
Usar o “e se…” é uma forma de desafiar as regras e
suposições que fixam os caminhos da roça. Mudar o ângulo permite enxergar
caminhos virtuais estimulados por provocações do tipo: o que poderia ser
substituído? O que poderia ser combinado? O que poderia ser ampliado ou
reduzido? O que mais o seu produto ou serviço poderia ser? O que poderia ser
eliminado?
Buscar conexões inusitadas
O que tem a ver uma fábrica de carros com um frigorífico de abate de boi? A
princípio, nada. Mas Henry Ford, observando o processo de abate de bois, criou,
no sentido contrário, o sistema de produção em série e de montagem de veículos.
O que tem a ver carrapichos com fechos de vestuários? A
princípio, nada. Mas George de Mestral, observando as centenas de ganchinhos
dos carrapichos, inspirou-se para criar os fechos de velcro.
Óculos emprestados
Os estímulos em si não criam as idéias, mas ajudam a
instigar a imaginação. Melhor ainda quando o exercício é feito em equipe. Se
você combinar as suas idéias com as dos outros, terá idéias que nunca teve
antes.
A troca é necessária! Todos nós temos os nossos pontos
cegos, aquilo que não conseguimos enxergar. É salutar pedir os “óculos” dos
outros emprestados. Há, nesse movimento, um sentido de compartilhamento e
criação conjunta que pode ser, além de efetivo, muito gratificante. Todos nós
temos um conjunto de inteligências que se somam às inteligências de outras
pessoas. Se você não tem todo o conhecimento e experiência que necessita,
junte-se a alguém que tem. A maior de todas as inteligências é pedir e aceitar
ajuda.
Dois cavalos puxando, juntos, a mesma carroça podem mover
mais do que a soma do peso que cada um é capaz de mover individualmente. Esse
fenômeno recebe o nome de sinergia. É isso que acontece quando as pessoas
pensam juntas.
Para praticar a sinergia, no entanto, há que acreditar na
cooperação: valorizar as pessoas, valorizar as suas idéias (rejeitar uma idéia
é rejeitar a pessoa que a teve) e valorizar o trabalho em equipe. E, sobretudo,
acreditar que todos podem contribuir para a evolução do negócio, não apenas os
empreendedores e o pessoal de primeiro escalão. Para tanto, o respeito ao ser humano
é o ponto de partida. E, também, a confiança.
Por fim, é necessário dar tempo às idéias. É comum
colocar a idéia no banco dos réus: o objetivo dos jurados é descobrir onde está
o furo, onde falta lógica.
Suspenda o julgamento! As idéias precisam ganhar
força e tamanho. Precisam ser cultivadas. Somente assim seremos capazes de nos
desviar do caminho da roça e criar situações favoráveis às novas descobertas,
novos caminhos, novas histórias e novos resultados.
Imaginar pode ser a chave, milagrosa, para o
êxito. Além de tornar a vida muito, mas muito mais interessante e divertida!
Pense nisso!